domingo, 15 de dezembro de 2013

A linguagem no TDAH

A aquisição da linguagem é um fenômeno complexo e com um ritmo neurobiológico próprio. A aptidão para adquirir as estruturas da língua foi descrita por Chomsky como dispositivo inato da linguagem (LAD= Language acquisition device), e estaria inscrita no potencial genético humano. Existindo, portanto, algo “inato e específico que faz com que o homem fale” (AIMARD, 1998), mas é evidente que fatores culturais também interferem na aquisição da linguagem.

Alguns fatores básicos que envolvem a aquisição da linguagem são a interação e a imitação. No entanto, crianças com TDAH acabam encontrando dificuldades nestes fatores por não conseguirem estabelecer relações com colegas e professores. Outra consequência do não estabelecimento de bons contatos sociais é que a criança corre o risco de ser excluída dos grupos a que pertence, ou que tenta pertencer (o ambiente escolar, por exemplo).

Para que a aquisição e o desenvolvimento da linguagem ocorram de forma satisfatória é necessário a presença de alguns componentes bastante significativos como o desenvolvimento cognitivo, que é a base do desenvolvimento de toda a estrutura. Este desenvolvimento cognitivo está relacionado com a interação social, além de aspectos como ter alguma razão ou intenção de se comunicar. Sendo também válido ressaltar a relação que existe entre atenção e linguagem. A atenção é o conjunto de processos psicológicos que torna o ser humano capaz de selecionar, filtrar e organizar em unidades controláveis e significativas, enquanto que a linguagem é na sua forma verbal uma atividade especificamente humana, talvez a mais característica de nossas atividades mentais.

A atenção funciona como uma “janela” por onde os estímulos externos adentram no indivíduo. Estes estímulos são fundamentais para a aquisição de diversos tipos de conhecimentos, tais como a linguagem oral e diversas outras habilidades complexas de comunicação que são importantes para que haja uma interação adequada do indivíduo com o ambiente que está inserido.

A linguagem funciona como um elemento organizador que confere sentido ao mundo. Sendo assim, é um fator relevante ao desenvolvimento da capacidade de manter a atenção e inibir a impulsividade. Vigotsky em seus estudos afirma que o sujeito, ao interagir com o mundo externo, internaliza elementos deste ambiente recriando significados rumo a uma regulação do seu próprio agir. Sem uma linguagem esta autonomia não poderia se realizar porque o pensamento reflexivo, para exercer uma função especulativa, necessitaria de uma “forma” (código linguístico). A linguagem pode ser considerada como uma das primeiras formas de socialização da criança. Por meio dela a criança adquire valores, regras e conhecimentos advindos de sua cultura (BORGES e SALOMÃO, 2003).

Estudos comparativos têm mostrado que o atraso de linguagem em crianças com TDAH é de 6% a 35%, enquanto que na população sem TDAH está em torno de 2% a 6%, e mostram que existem alterações nos lobos frontais, corpo caloso, gânglios da base e cerebelo. Indivíduos com TDAH apresentam alterações específicas em uma função cognitiva chamada de função executiva, que abrange os processos responsáveis por focalizar, planejar, direcionar e integrar as funções cognitivas. A fluência verbal tem sido muito usada para avaliar as funções executivas, analisando como o sujeito organiza seus pensamentos envolvendo velocidade e produção lexical.

Sabe-se que indivíduos que apresentam atraso no desenvolvimento da linguagem podem apresentar distúrbios de aprendizagem, entre eles os de leitura e escrita. Isso ocorre porque o indivíduo apresenta dificuldade no fluxo da fala espontânea, desorganização na elaboração de formas gramaticais, dificuldades na compreensão auditiva além de trocas ortográficas e problemas de memória.

Por isso, crianças com TDAH estão mais sujeitas ao fracasso escolar, dificuldades linguísticas e emocionais. Entretanto, a identificação do problema precocemente e o tratamento adequado com equipe multidisciplinar (psicólogo, pedagogo, fonoaudiólogo, entre outros) pode ajudar estas crianças a vencer estes obstáculos.

[REFERÊNCIAS]

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